Como é o dia-a-dia dos conselhos de administração?
Quem, como eu, que já viveu muitos anos acompanhando um ou mais conselhos de administração, sabe que, por mais que existam regimentos, regras e boas práticas (que são muito importantes), o real desempenho e resultados das decisões tomadas pelos conselheiros, vão depender muito mais dos aspectos comportamentais e da própria dinâmica do grupo. Em qualquer grupo de indivíduos, por mais preparados que sejam, as interrelações são muito complexas, mais psicológicas do que lógicas.
No caso dos conselhos de administração (CA’s), existem, além das relações entre os conselheiros, as relações deles com os executivos da empresa e com os demais stakeholders. E somente quem está acompanhando a jornada do CA é que pode, eventualmente, perceber os sinais que permitem diagnosticar as relações existentes e o resultado comportamental do grupo.
Sandra Guerra, no seu livro “A Caixa-Preta da Governança”, estuda com profundidade estas relações, o desempenho dos CA’s, composição, diversidade, preocupações, o estresse das tensões existentes, o papel do PCA (presidente do CA), as preocupações dos conselheiros, os comportamentos individuais e do grupo, e algumas técnicas e instrumentos para lidar e/ou mitigar as armadilhas comportamentais e patologias existentes nas salas dos conselhos.
Quando ocorre um acidente aéreo, procura-se a “caixa preta” do avião onde pode-se eventualmente encontrar registros e sinais que possivelmente ajudem no diagnóstico do que ocorreu. Mas, assim como em alguns acidentes aéreos, muitos “acidentes de governança” não tem caixa-preta ou, em outras palavras, não deixaram registros formais do que realmente ocorreu antes do acidente. Até porque podemos ter muitos registros lógicos, mas com certeza não encontraremos os psicológicos.
Seu livro foi baseado em resultados de pesquisas feitas no Brasil e no exterior, incluindo a visão de ícones e experts em Governança Corporativa, exemplificando, na prática (de forma confidencial), algumas vivências de conselheiros famosos, confrontando os respectivos diagnósticos comportamentais com os resultados obtidos através (ou, por consequência) das deliberações do CA’s.
Por isso mesmo, durante a leitura do livro é comum, em diversos momentos, florescer em nós aquela forte sensação de “déjà vu”. São várias experiências que, para quem viveu dentro de CA’s, é comum identificar similaridades e situações equivalentes nas relações e, às vezes, até nas decisões.
Como consequência, fica aqui minha recomendação de leitura obrigatória deste livro para conselheiros, executivos e todos stakeholders que, na prática, de alguma forma, precisam se relacionar interna ou externamente com CA’s. Recomendo também para aqueles que desejam se aprofundar no estudo e conhecimento sobre Governança Corporativa, incluindo meus colegas e professores de curso de Conselheiro de Administração do IBGC.